História da Igreja de São João Batista em Carioba
IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA EM CARIOBA
Década de 20. Os fiéis de Carioba se reuniam mais uma vez na pequena capela às margens do Rio Quilombo, desta vez para rezarem e festejarem o dia de São João Batista, padroeiro daquela comunidade que viria a ser um marco na história de Americana.
O pequeno templo religioso - um dos primeiros da cidade - foi construído pelos próprios moradores sob a iniciativa de João Camargo e Antônio Pinho, devotos do santo. Tão logo se ergueu a obra, iniciaram os festejos, de forma simples, mas sempre com grande número de adeptos.
"Havia duas festas na época", conta Olinda Pinto Justi, a dona Nenê, a cariobense de 78 anos. Segundo ela, um dos festejos acontecia na capelinha sempre no final de semana próximo ao dia do padroeiro.
Havia missa pela manhã e os fiéis saiam em procissão pelas ruas do bairro até a capelinha onde acontecia a festa. No cardápio, quentão, pipoca e bolo. "Tudo era vendido para ajudar na manutenção da igreja", diz.
Já a segunda festa era realizada pelas mãos de uma vizinha da capelinha, dona Maricota, lembrada com muito carinho por Nenê. "As pessoas se reuniam na casa dela no dia 23, véspera do dia de São João.
Eles saiam em procissão até a Suzano, onde ocorria a lavação do santo. Os fiéis voltavam em procissão e paravam na casa de Maricota onde era servido bolo, pipoca e quentão, tudo doado pelos moradores e distribuídos gratuitamente. "E sempre ia muita gente, nas duas festas", conta Nenê.
Com o passar dos anos, o bairro cresceu e a capelinha não comportava mais seus fiéis. As enchentes no final da década só fizeram crescer o desejo dos fiéis em mudar o templo de lugar, uma vez que corria risco pela proximidade ao Quilombo. Foi aí que a festa passou a ter um papel fundamental para a sobrevivência da comunidade.
"Todo o dinheiro arrecadado serva para comprar material para a construção da nova igreja", diz a moradora.
A família Abdallah doou o terreno - a intenção era que a igreja pudesse servir como ponto de referência e ser vista por todos do bairro, por isso o local escolhido foi o mais alto daquela região - parte da mão de obra e dos materiais.
O restante ficava a cargo dos moradores que doaram material e força de trabalho. "Aquilo tudo foi construído na raça. Tijolo por tijolo que era levado nas costas.
O pessoal trabalhava a semana toda e, no final de semana, estava lá ajudando a erguer as paredes", conta o ex-morador Alcides Granzotte. A pedra fundamental foi lançada sob grande festa em 29 de junho de 1947 e inaugurada parcialmente dois anos depois.
O FIM DE UMA ERA...
A festa aconteceu ano após ano, sempre com bom público e muito quentão, até o fechamento da Fabrica de Tecidos de Carioba, em 1976. "Foi no dia 31 de dezembro. Eu era do almoxarifado e, depois de 26 anos de trabalho, fui o último a sair dali, às 13h15. Chorei o resto do dia", conta Grazotte. Era o fim de quase um século de história para Carioba.
Com o passar dos anos, as famílias se mudaram para outros bairros da cidade, muitos para Cariobinha, culminando na demolição do bairro na década de 80. A fim de proteger a capela - que ainda funcionava embora fosse vítima constante de vândalos -, fiéis instalaram um alambrado ao seu redor.
"Quando mexeram nesse alambrado, aí a coisa mudou de figura. Foi formada uma comissão para pedir a preservação da igreja. Houve muitos protestos e reuniões com o prefeito para que ela fosse mantida", conta o ex-morador Jader Neves Grillo.
O RECOMEÇO
Em 1992, incentivados pelo evento "Carioba Existe" promovido pela prefeitura, filhos e netos de moradores de Carioba, liderados por Gilberto de Ugo Godoy, se mobilizaram para reviver o legado deixado por seus pais. Em 1994, uma pequena festa foi organizada com quentão, pipoca e roleta de assados a fim de angariar fundos para a restauração e preservação da capela de São João Batista.
Do improviso veio a experiência e aos poucos a festa foi tomando forma e novamente ocupa lugar de destaque no calendário cultural e festivo da cidade. Em 2010, o templo foi tombado patrimônio histórico da cidade pelo Governo do Estado de São Paulo. Com um público cada vez maior, a festa oferece aos visitantes uma viagem aos tempos áureos de Carioba e fortalece os laços entre o antigo e o novo cada vez mais.
MATÉRIA DO JORNAL "O LIBERAL" DE 18/06/2012 POR DÉBORA DE SOUZA
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